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AGROCHINA: A tendência para as margens da suinocultura na China para 2022

Por: Eduardo Vanin
Artigo, Suíno
Publicado em: 31/12/2021 10:37

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A carne suína na China vinha em um movimento de recuperação durante o mês de outubro, tendência que acabou perdendo força desde a 2ª quinzena de novembro. A figura mostra o movimento de recuperação de quase 30%, seguido de um movimento de forte queda.

Essa tendência de rápida alta e rápida queda pode ser explicada pela antecipação do movimento sazonal de composição de estoques pré-feriado Lunar, feriado com data prevista para o final de janeiro próximo, um mês antes portanto em relação a esse ano.

No entanto, a grande questão para 2022 é quanto ao comportamento das margens do suinocultor chinês, a qual continua oscilando perto do breakeven. Questões importantes para 2022:

  • A saturação do mercado chinês de carne suína;
  • A redução das importações – o governo chinês elevou a tarifa de importação para 2022;
  • O ritmo de crescimento da população de matrizes;
  • As mudanças no hábito de consumo na China;
  • Movimento de consolidação do setor de produção de carne;

UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL

A figura mostra a variação anual dos preços das carnes na China até o momento. Como se pode ver, a carne suína é a proteína que acumula a maior queda ao consumidor chinês durante o ano de 2021, seguido da carne de frango. Já a carpa e ovos encerraram o ano com bons ganhos, o que poderá abrir mais espaço para o consumo de carne suína na mesa do chinês em 2022.

O mercado se pergunta nesse momento se a desova de animais (suínos) teria acabado? No mercado físico, os preços da carne suína encerraram o ano com perdas acumuladas de quase 55%, movimento provocado pelo aumento da oferta interna, forte crescimento das importações e mudanças do hábito alimentar dos jovens chineses, os quais estão dando mais preferência às proteínas vistas como mais saudáveis como carne bovina, carne de frango e peixes.

A figura mostra a grande mudança do cenário de margens para produtores chineses, saindo de margens de mais de $300 por animal abatido em 2020 para margens negativas, no pior momento de 2021, em torno de $50 por animal. Nesse momento, as margens voltam a recuar, indicando que novamente o suinocultor chinês terá um início de ano difícil, impactando em sua decisão de aumento do plantel e consumo de rações.


OUTRAS CARNES

A recuperação das margens para 2022 dependerá do tamanho da oferta interna, mas também da preferência do consumidor chineses, a qual pode ser impactada por mudanças no hábito, mas também por questões de preços. Nesse ponto, a tendência de preços de outras carnes passa a ganhar muita importância.

Proteínas como ovos e peixes subiram forte em 2021, puxadas por conta de restrições de oferta e encarecimento dos custos de produção. A carpa, um dos peixes preferidos dos chineses, chegou a subir na máxima do ano quase 30%. Será que em 2022 os preços da carpa continuarão subindo?

Produção de peixes: A alta dos peixes se dá por conta da pressão ambiental sobre os produtores locais. Na China a poluição do ar e das águas é a maior preocupação dos chineses quanto ao meio ambiente. Simplesmente a sociedade chinesa está mais consciente dos impactos para as próximas gerações, tanto em termos de saúde como a degradação do meio ambiente. Impactos à produção:

  • Em 2015 o governo chinês iniciou um programa de despoluição dos rios, levantando uma série de obrigações sobre os suinocultores, tornando a atividade inviável para pequenos e médios nas províncias mais ao Sul do país;
  • Em 2020 o governo chinês começou a avançar sobre a poluição e degradação causada pela produção de peixes em cativeiro, em sua maioria realizada nos principais rios. A China é o maior produtor e consumidor global de frutos do mar e peixes de água doce – representa mais de 52% (dados de 218). Parece que essa tendência deverá manter pressão sobre a oferta de peixes e custos para 2022;

CONSOLIDAÇÃO

Uma possível estratégia das grandes produtoras de carne suína na China (TOP 16), empresas de grande porte, seria a guerra de preços no melhor estilo de Sun Tzu – Arte da Guerra. Os chineses são mestres quando o assunto é guerra de preço e consolidação de setores. Muitos deles trabalham cobrindo apenas os custos variáveis e margens negativas por períodos longos, buscando ganhos de participação de mercado.

As TOP 16 empresas produtoras representavam apenas 30% da produção nacional de carne suína até 2012, proporção que deverá encerrar esse ano em 70% - dados da indústria.

Para o setor de suínos, a consolidação faz muito sentido quando se olha a pulverização do mercado chinês de produção e distribuição. Segundo dados, a consolidação já estaria ocorrendo. As TOP 16 empresas produtoras representavam apenas 30% da produção nacional de carne suína até 2012, proporção que deverá encerrar esse ano em 70% - dados da indústria.

No entanto, alcançar 90% pode não ser uma escolha, mas sim uma diretriz, o que garantiria mais controle de qualidade e preços para toda a cadeia – estabilidade e previsibilidade é o que todo governo almeja. Se a tendência global for copiada na China, e há motivos para acreditar que sim, hoje as indústrias de alimentos são dominadas por no máximo três a quatro players por setor. Nesse ponto a China ainda tem um longo caminho pela frente.


POPULAÇÃO DE MATRIZES

Ao final de julho desse ano, dados oficiais confirmaram que a população de matrizes de suínos havia chegado a 102% em relação ao período pré-ASF (dez/2017), sem dúvida uma grande recuperação, a qual em um primeiro momento resultou em grande aumento do consumo de rações, mas que nesse momento está trazendo forte saturação ao mercado doméstico da carne suína.

Como consequência da rápida recuperação da população de matrizes, a produção de carne cresceu muito, jogando os preços internos para as mínimas de mais de dois anos, colocando forte pressão sobre as margens dos suinocultores – as margens saíram de ganhos de mais de 300 dólares por animal abatido em 2020 para margens negativas de mais de 50 dólares por animal.

Como se pode ver na figura, a população de matrizes chegou a mais de 45,6 milhões de animais ao final de julho, derrubando os preços do leitão em Fujian para apenas 18 iuan por quilo, menor valor em mais de dois anos – a população de matrizes chegou a quase 31 milhões em setembro de 2019, auge dos surtos de ASF.

O número de matrizes em novembro caiu 1,2% em relação a outubro para 42,96 milhões de cabeças, 4º mês de queda seguido.

No entanto, segundo dados do governo de de novembro já se pode notar reversão do ciclo de crescimento da população de matrizes. O número de matrizes em novembro caiu 1,2% em relação a outubro para 42,96 milhões de cabeças, 4º mês de queda seguido.


DINÂMICA DOS PREÇOS PARA 2022

Alguns pontos devem ser levados em conta quanto à dinâmica dos preços da carne suína na China para o próximo ano:

USDA: Com tal cenário de pressão sobre as margens internas, o escritório do USDA em Pequim reduziu sua estimativa de abate de suínos em 2022 em 14%, fruto da saída de pequenos e médios produtores da atividade, os quais possuem subsídios menores e linhas de créditos mais caras em relação às grandes operações. No entanto, seus números mostram manutenção das importações de carnes perto de 8,5 milhões de toneladas, abaixo portanto do pico histórico de 10,34 milhões atingido no acumulado de 12 meses até abril desse ano. Essa tendência ganhará força por dois motivos, 1) a forte queda dos preços internos da carne suína e; 2) a elevação da tarifa de importação de 8% para 12%, voltando ao nível pré-ASF em 2017.

Melhora das margens da suinocultura: O mercado chinês se pergunta, “a desova de animais teria acabado”? O governo chinês tem dado suporte aos pequenos e médios produtores, temendo que as margens negativas possam forçar produtores para fora da atividade, o que poderia mais à frente gerar novo ciclo de alta dos preços e pressão sobre a renda disponível da população. No entanto, o suporte não tem sido suficiente para colocar um piso aos preços internos, uma vez que o volume de abate continua crescendo e os pequenos e médios produtores continuam “sangrando”. Parece que realmente a melhora nas margens para 2022 dependerá da saída de produtores do setor, o que então reduziria a oferta interna;

Mudança de diretriz: Reguladores chineses revisaram suas diretrizes para a população de matrizes de suínos, o que pode colocar uma menor pressão sobre as margens do setor. A diretriz anterior estava em 40 a 43 milhões de cabeças, meta revisada em outubro para 37 a 40 milhões. Essa mudança pode trazer dois impactos: 1) a mudança da meta do governo para a população de matrizes mostra preocupação quanto à sustentabilidade das empresas; 2) reguladores ainda estão buscando o ponto de equilíbrio entre produção e consumo e; 3) parece que o novo equilíbrio será alcançado pelo mix de produção nacional e volume de importação de carnes (bovina, frango e carne suína) acima de 8 milhões de toneladas anuais contra histórico de 4,5 milhões e pico de 10,3 milhões (acumulado de 12 meses até maio desse ano).


PONDERAÇÕES

  • A população de matrizes de suínos na China cresceu muito rápido, trazendo pressão de oferta de animais prontos;
  • Reguladores estão tentando ajustar a meta para a população de matrizes;
  • As margens da suinocultura na China deverão se manter oscilantes em 2022;
  • Os preços da carne suína no Brasil continuam muito dependente dessa dinâmica;

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