PSF: 25_11_2024
O estresse no mercado câmbio observado ontem se estendem para essa quinta-feira, refletindo a frustração do mercado com as medidas fiscais anunciadas pelo Governo. Com a alta de hoje, bateu R$ 6,0004 na máxima do dia e opera levemente abaixo desse patamar agora.
O pacote que prevê uma economia em torno de R$ 70 bilhões para os próximos dois anos traz mudanças estruturantes positivas, como estabelecer um teto ao reajuste do salário mínimo e aumento da idade mínima para aposentadoria das Forças Armadas (de 50 para 55 anos).
Essas e outras medidas poderão trazer uma economia de R$ 327 bilhões nos próximos 10 anos, segundo o governo.
Porém, o que pegou mal junto ao mercado foi antecipar o anuncio do aumento da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês. Essa mudança deverá valer somente a partir de 2026 e estava na pauta da Reforma Tributária da Renda que deverá ser aprovada no Congresso no ano que vem.
Mas de forma populista, o governo quis antecipar essa notícia, afim de mitigar o efeito negativo sobre a visão da população das medidas de corte de gastos. Ou seja, quis tirar com uma mão e dar com a outra para evitar os efeitos negativos sobre a avaliação do governo.
Porém, o que importa é o rumo das contas públicas para o mercado e após o anuncio, o sentimento é que o pacote ficou esvaziado pela isenção do IR e por isso, o mercado segue com forte estresse no dia de hoje.
Resumindo, de um lado temos a perspectiva de um corte de R$ 70 bilhões em dois anos e na outra ponta, uma renuncia fiscal de pelo menos R$ 40 bilhões com a isenção do IR até quem ganha R$ 5 mil por mês. E dependendo como for o texto dessa isenção, pode chegar a uma renuncia fiscal de até R$ 100 bilhões se for reajustada toda a tabela para cima até quem ganha R$ 50 mil por mês.
Portanto, o saldo das medidas pode vir a ser zero ou até negativa sobre o impacto nas contas públicas. E esse é o problema que o governo vai ter para se explicar aos investidores e conseguir apagar o “incêndio” provocado no dia de ontem e confirmado hoje com a isenção do IR.
O mercado até tende a se acomodar e abaixar a temperatura no curto prazo quando as coisas ficarem mais claras, mas para o curtíssimo prazo, o estresse deve continuar.
O governo teve a oportunidade de acalmar o mercado e derrubar o dólar com o pacote. Mas conseguiu transformar algo que poderia ser positivo em negativo. Agora vão ter que se virar para apagar o incêndio para que não tenha mais problemas para resolver, afinal, dólar para cima é inflação para cima. E inflação para cima é juros para cima.
Sem conter a alta do dólar, o que está ruim vai ficar muito pior adiante. Vira uma bola de neve negativa. Vamos aguardar os próximos capítulos dessa nova crise no mercado financeiro brasileiro. Mas o “cheiro” não é nada bom.